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Obras de José de Alencar (continuação)

b) romances indianistas

Características principais:

- nacionalistas;
- exaltação da natureza;
- idealização do índio;
- temas históricos;
- resgate de lendas;
- índio como um herói, europeizado, quase medieval;
- contato do índio com o europeu colonizador;

Os romances mais conhecidos da fase são O Guarani (1857), Iracema (1865) e Ubirajara (1874).

O Brasil, agora uma nação indepentende, precisava definir seus heróis nacionais e os autores indianistas viam o índio como o personagem ideal por este ser quem primeiro expressou amor às terras brasileiras, defendendo seu território e seu povo contra os colonizadores europeus.

Outros autores, como o Padre Anchieta, Basílio da Gama e Gonçalves Dias já haviam versado sobre a singularidade do índio brasileiro, porém, com o desenvolvimento da prosa e a popularização dos romances de folhetins, Alencar pôde não apenas criar histórias mas também desenvolver e difundir junto aos seus leitores um sentimento de nacionalidade mais abrangente e que tocasse em todos os seus leitores baseando-se nos heróis medievais europeus, símbolos de honra e bravura.

Enredos

O Guarani (1857) - publicado em formato de folhetim para o Diário do Rio de Janeiro durante o ano de 1857, O Guarani é provavelmente o romance de Alencar mais conhecido e aclamado, sendo considerado um clássico da literatura brasileira. O romance possui todos os elementos do romance romantico e indianista, principalmente por se tratar do contato entre os indígenas que aqui estavam com os europeus.

O romance é uma história de amor entre um índio e a filha de um fidalgo português D. Antônio de Mariz que viera às terras brasileiras recebidas por Mem de Sá, um dos primeiros administradores de terra da colônia.

Logo no Prólogo, Alencar avisa seus leitores de que a história que irá contar está presente em um manuscrito encontrado em um velho armário na ocasião da compra de sua casa, de maneira a se eximir caso o trabalho seja considerado ruim.

Dividido em quatro partes: Os Aventureiros, Peri, Os Aimorés e Catástrofe, o romance retorna ao ano de 1604, época em que os reinos de Portugal e Espanha ainda disputavam terras no novo continente. A trama inicia às margens do rio Paquequer, um afluente do rio Paraíba, onde está localizado a residência fortificada do fidalgo D. Antônio de Mariz, que vive com sua esposa, Dona Lauriana, seu filho Diogo, sua filha Cacília, sua sobrinha Isabel e o índio Peri. Na propriedade viviam também aventureiros que participavam de expedições, entre eles, Loredano, o ambicioso italiano que, mais adiante, torna-se o vilão do romance. Outro personagem importante para a trama é Álvaro de Sá, um jovem nobre de confiança do fidalgo português.

O romance, além do fundo histórico, é uma história de amor entre o índio Peri e Cecília, moça loira e de olhos azuis, descrita como dona de uma alma generosa e inocente. Peri é o índio imaginado dentro do ideal do "bom selvagem", do filósofo francês Russeau, isto é, o índio bom e incorruptível por estar cada vez mais distante da civilização.

O enredo de O Guarani se mostra mais complexo do que os demais romances de José de Alencar. Nele, há dois principais conflitos: entre os índios e os portugueses que se estabeleceram nas terras e entre os admiradores de Cecília (Peri, Álvaro e Loredano), que estavam interessados na mão da moça.

Resumo da obra:

Parte 1 -- Os Aventureiros

O romance inicia com o aventureiro Álvaro de Sá e seus companheiros que, ao retornarem do Rio de Janeiro, encontram um selvagem, Peri, que se encontrava frente a frente com uma onça com o intuito de agradar a sua senhora Cecília. O jovem índio havia abandonado sua tribo, os Goitacás, por causa da linda jovem.

Álvaro também se apaixona por Cecília e tenta se aproximar deixando um presente em sua janela. Loredano, enciumado, derruba o presente da janela aos olhos de Peri.

No dia seguinte, Ceci e Isabel vão tomar banho de rio, quando são surpreeendidas por dois índios da tribo dos Aimorés. Peri aparece para defendê-las e é vítima de uma flechada. O motivo do ataque é a vingança: uma vez, Diogo matara sem querer uma índia aimoré e agora sua família viera prestar contas. Peri suspeita que haja um ataque à fazenda de D. Antônio.

Enquanto se reabilitava da flechada com o uso de ervas medicinais, Peri ouve uma conspiração vinda de Loredano, que pretende matar D. Antônio e sequestrar Cecília e Isabel para depois partir em busca de um tesouro cujo mapa Loredano conseguiu de maneira escusa.

D. Antônio acha que o evento às margens do rio que quase pôs fim às vidas de Ceci e Isabel era uma brincadeira de Peri e resolve mandá-lo embora de sua propriedade.

Parte II -- Peri

A narrativa retrocede em um ano e conta a história de Loredano, um frade carmelita que se apoderou de um mapa das minas de Prata de Robério Dias. Abandona a vida religiosa e o nome de Frei Angelo di Luca para se alojar na propriedade de D. Antônio. A partir daí, nutre planos para se apoderar de Cecília.

Há também a narrativa do pimeiro encontro dos personagens principais: o índio salva Cecília de ser esmagada por uma rocha e associa a imagem de Ceci com a da Nossa Senhora, nutrindo total adoração e fidelidade para com a moça.

De volta ao presente, D. Antônio encarrega Diego de levar adiante a honra da família e a Álvaro, para que cuide de Cecília com a morte do patriarca. Descobre que Peri não estivera brincando no dia do ataque às margens do rio e resolve perdoá-lo. O índio então adverte D. Antônio sobre a ameaça de ataque dos aimorés. Enquanto isso, Cecília procura aproximar Álvaro e Isabel, que nutem admiração um pelo outro.

Parte III --Os Aimorés

D. Antônio manda Diogo para o Rio de Janeiro em busca de ajuda contra o iminente ataque dos aimorés. Loredano entra no quarto de Cecília com o intuito de raptar a moça. Porém, tem sua mão transpassada por uma flecha de Peri. Enquanto D. Antônio e Loredano lutam corajosamente, a fazenda é atacada pelos índios e, por um momento, todos se unem para lutar contra o inimigo comum.

Porém, Peri planeja se infiltrar junto aos aimorés, se envenena e se deixa levar como prisioneiro.

Parte IV -- A Catástrofe

Enquanto Loredano prossegue com seu plano diabólico de sequestrar Cecília, seus companheiros, cientes dos verdadeiros interesses do ex-religioso, decidem matá-lo. Peri é resgatado por Álvaro e revela seu plano ao amigo: havia se envenenado com curare e se fez de vencido para que os inimigos, ao comerem sua carne (prática comum entre as tribos indígenas), ingerissem também o veneno. Com o resgate, ingere um antídoto e se livra do efeito do veneno.

Álvaro, desfalecido, é entregue a Isabel. A moça, ao imaginar que seu amado estivesse morto, ingere veneno para acabar com a própria vida. Com esse último beijo, os dois acabam com suas vidas. D. Antônio batiza Peri e o incumbe de uma missão: levar Ceci até a casa de uma tia, no Rio de Janeiro, para que ela seja criada longe dos conflitos com os indígenas. Enquanto os dois fogem em uma canoa, Peri assiste a destruição da fazenda pelos índios e a morte de seus habitantes (inclusive Loredano e D. Antônio). Quando Ceci acorda, fica sabendo do acontecimento trágico e se sente cada vez mais próxima e encantada por Peri.

Uma enchente na Paraíba faz com que os dois se abriguem no topo de uma palmeira. Quando a água os alcança, Peri evoca a lenda de Tamandaré. Arranca, então, a palmeira em um esforço praticamente inverossímil. A narrativa encerra com os dois deslizando pela superfície do rio.

Saiba mais

(1) A ópera O Guarani (Il Guarany), do compositor brasileiro Antônio Carlos Gomes (1836 - 1896), foi composta inspirada no romance de Alencar. A ópera estreou no Teatro Scala, Milão, em 1870. Logo, a ópera foi composta no idioma italiano, pois essa era a língua em que as óperas eram produzidas. O compositor finalizou seus estudos na Europa, onde recebeu o título de Maestro Compositor, quando obteve conhecimento do romance de José de Alencar, o que o motivou a compor a ópera, que conta com o libreto do poeta Antonio Scalvino.


Ilustração da Ópera O Guarani de Carlos Gomes feita por Bordallo Pinheiro para revista O Besouro em 1878

(2) curare -- é um composto venenoso extraído de plantas cujo efeito é paralisante.

(3) final em aberto -- técnica utilizada para permitir que os leitores interpretem o final de um romance de acordo com sua inclinação. No caso de O Guarani, temos que Peri e Ceci deslizam pelo rio em uma palmeira sem que o autor desenvolva uma saída para a situação. Não saberemos se os dois chegaram ao Rio de Janeiro, se ficaram juntos ou, é claro, se morreram nessa longa viagem pelo rio.

(4) Goiatacás e Aimorés -- nomes de duas tribos indígenas que ocupavam parte do território brasileiro antes da chegada dos europeus. Os aimorés eram inimigos dos brancos e eram antopófagos, isto é, se alimentavam do corpo dos guerreiros mais valentes da tribo inimiga porque acreditavam que assim absorveriam a valentia do guerreiro capturado.

Como referenciar: "Obras de José de Alencar - O Guarani (1857)" em Só Literatura. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2024. Consultado em 27/04/2024 às 14:20. Disponível na Internet em http://www.soliteratura.com.br/romantismo/romantismo15.php