Autores da Literatura Portuguesa
Gil Vicente
Considerado por muitos críticos como o fundador do teatro português, o escritor faz um retrato de Portugal na passagem da Idade Média para o Renascimento.
Publicou, em 1502, seu primeiro auto, o Monólogo do Vaqueiro, também conhecido como Auto da Visitação. Sua obra é permeada por elementos populares e sátiras que criticam diversos tipos sociais, principalmente, o clero (e seus casos de amor proibido), os beatos fervorosos, os membros das classes mais altas que atendiam às missas unicamente para cumprir um requisito social e a baixa nobreza.
Vicente, no entanto, defende aqueles que seguem trabalhando honesta e arduamente na terra.
Gil Vicente (1465-1536)
Seus autos mais populares são o Auto da Barca do Inferno e a Farsa de Inês Pereira. O Auto da Barca do Inferno representa a primeira parte da “trilogia das barcas” (seguido da “Barca do Purgatório” e a “Barca da Glória”). Escrito com linguagem coloquial e versos de sete sílabas, o auto apresenta apenas um ato, dividido em vários episódios.
O enredo gira em torno de diversos personagens que são almas a ser conduzidas ou para a barca do Inferno - conduzida pelo Diabo - ou para a barca da Glória - conduzida por um anjo. Os personagens julgados são: Anrique (um fidalgo), um agiota, Joanantão (um sapateiro), Joane (um tolo), Frei Babriel e Florença (sua “dama”), Brísida Vaz (uma prostituta), Semifará (um judeu), dois representantes do judiciário (um corregedor e um procurador), um enforcado e quatro cavaleiros que lutaram nas cruzadas.
De todas as 14 almas, apenas os quatro cavaleiros embarcam na barca da Glória, pois são puros e defenderam os ideais do cristianismo. Todos os outros são enviados à barca do inferno e tentam discutir e argumentar com o Diabo os motivos pelos quais merecem ir ao céu. O auto tem um intuito moralizador e maniqueísta, mostrando o bem contra o mal, e indicando que aqueles elementos cuja moral mancharia a sociedade foram conduzidos para o inferno.
Ilustração para o Auto da Barca do Inferno
Em Farsa de Inês Pereira, Gil Vicente conta a história de uma moça simples, mas que ambiciona casar com um rapaz inteligente e sedutor. A mãe insiste para que ela se case com um rapaz chamado Lianor Vaz, mas Inês considera o moço bruto e inculto. Por intermédio de dois “casamenteiros”, Inês acaba por casar com Brás da Mata, um escudeiro.
No entanto, o casamento não dá certo, pois Brás vai à guerra e tranca Inês em casa. Com a morte de Brás na guerra, Inês descobre que seu primeiro pretendente, Lianor Vaz, está solteiro e disponível para o casamento. Os dois se casam, mas Inês acaba por arranjar um amante.
A intenção de Gil Vicente era escrever uma peça que tivesse como tema o ditado popular “mais quero um asno que me carregue a um cavalo que me derrube”. A peça não está dividida em atos, mas está estruturada em quatro partes principais. Saiba mais: