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José de Alencar (continuação)

Obras

Os críticos costumam dividir em quatro as fases principais da produção de José de Alencar:

a) urbana ou social: Cinco Minutos (1856), A viuvinha (1860), Lucíola (1862), Diva (1864), A pata da gazela (1870), Sonhos d'ouro (1872), Senhora (1875), Encarnação (1893);

b) indianista: O Guarani (1857), Iracema (1865), Ubirajara (1874);

c) histórico: As Minas de Prata (1865), Guerra dos Mascates (1873);

d) regionalista: O gaúcho (1870), O Tronco do Ipê (1871), Til (1872), O Sertanejo (1875);

Curiosidade: no ano de 1856 Alencar publica uma série de cartas em resposta ao poema A Confederação dos Tamoios (1857), de Gonçalves de Magalhães.

A coletânea de oito cartas, pubilcada sob o título de Cartas sobre a confederação dos tamoios pretendia criticar o poema de Magalhães que, na época, era protegido do imperador Dom Pedro II. A crítica recai principalmente no modelo escolhido por Magalhães para seu poema, o épico, um gênero clássico que não seria adequado para cantar o índio brasileiro.

Além disso, critica a fraca musicalidade do poema, a falta de "arte" na descrição da natureza brasileira e dos costumes indígenas. No ano seguinte (1857), Alencar publica seu primeiro romance indianista, O Guarani como resposta ao poema de Magalhães.

a) romances urbanos ou sociais:

As características principais dos romances urbanos ou sociais são:

- final feliz ou ideal;
- prevalência do amor verdadeiro;
- protagonistas femininas (que refletem um "ideal de feminilidade");
- retrato das relações familiares;
- ambiente doméstico;
- casamentos;
- questões financeiras (heranças, dotes, títulos, falências...);

Os três romances mais conhecidos dessa fase são: Lucíola (1862), Diva (1864) e Senhora (1875) que fazem parte da chamada trilogia "perfis de mulheres". Eles retratam uma sociedade elegante marcada pela ascenção da burguesia carioca empenhada em seguir a moda das cidades europeias, mais notadamente de Paris, no que diz respeito tanto às vestimentas quanto à vida cultural no período do Segundo Reinado.

Os enredos, dramáticos, seguem uma estrutura tradicional das histórias de amor: situação inicial - conflito/quebra - reparação/solução. O drama quase sempre gira em torno de um jovem casal que precisa enfrentar obstáculos sociais, geralmente envolvendo questões financeiras, se quiserem ficar juntos.


Arrufos (1887), pintura de Belmiro de Almeida

Enredos

Lucíola (1862) - o romance conta a história de amor entre um jovem rapaz que chega ao Rio de Janeiro e a cortesã de luxo Lúcia. Narrado em primeira pessoa pelo personagem Paulo Silva, o romance é escrito sob a forma de cartas, enviadas por Paulo para uma senhora, G. M., que mais tarde as publica sob a forma de um romance.

Ao chegar na cidade, Paulo sai com um amigo para conhecer a cidade quando, na Rua das Mangueiras, avista uma bela moça dentro de um carro por quem se encanta. Dias depois, revê a moça na festa religiosa de Nossa Senhora da Glória e fica sabendo, no entanto, que a bela moça é a prostituta mais luxuosa e cobiçada da cidade. Paulo então a procura com desejo de possuí-la e os dois acabam se encantando um pelo outro, como amigos e amantes. Os amigos de Paulo tentam persuadí-lo acerca da índole da moça, além de sugerir que a moça é caprichosa, excêntrica e avarenta, o que faz com que o moço se questione acerca das intenções de Lúcia.

Um dos amigos de Paulo, o Sá, organiza uma festa na qual convida, entre outros, a Lúcia. A festa, na realidade, era apenas um pretexto para mostrar a Paulo que tipo de mulher era Lúcia. No meio da janta, ela se levanta e começa, nua, a imitar as poses lascivas dos quadros expostos na sala mediante pagamento dos convidados. Momentos mais tarde, os dois amantes se encontram no jardim e Lúcia se justifica, dizendo que fez o que fez em um momento de desespero, pois Paulo havia zombado dela anteriormente. Em seguida, os dois se entregam ao amor.

Paulo passa a viver com Lúcia, que se redime de sua condição de prostituta e deseja viver única e exclusivamente para seu amor. Para isso, deixa de frequentar a sociedade e volta-se para seu amor com Paulo. Cometida por um sentimento de amor puro, Lúcia transforma-se consideravelmente, passando a, inclusive, a não querer mais se entregar fisicamente para Paulo, que não compreende essa mudança de atitude. Esse novo estilo de vida levanta uma série de reprovações por parte dos amigos de Paulo, que reprovam sua atitute. Lúcia, querendo salvar-lhe a reputação, dispõe-se a voltar a aparecer em sociedade, acarretando mais reprovações por parte de Paulo. Os dois não se entendem mais e Lúcia adoece.

A partir de então, Paulo passa a respeitá-la, pois compreende que a moça, na verdade, o ama em espírito e confia nele a ponto de contar-lhe seus segredos e a história de sua vida. Ela, na verdade, chama-se Maria da Glória e era uma criança feliz e inocente até que, aos 14 anos, a febre amarela levou consigo toda sua família. Para sobreviver, precisou pedir ajuda a um rico vizinho, em troca de sua inocência. O pai, que sobrevivera graças a ajuda conseguida pela filha, expulsou a moça de casa ao saber da procedência do dinheiro. Maria da Glória, então, foi acolhida por uma caftina que a conduz à prostituição.

Na nova profissão, Maria da Glória fez amizade com outra moça que passara pelos mesmos infortúnios. Lúcia era seu nome, e a moça veio a falecer pouco tempo depois. Maria da Glória, então, colocou seu próprio nome no atestado de óbito e passou a assumir a identidade da amiga morta. Com a morte dos pais, a nova Lúcia passou a guardar todo o dinheiro possível para garantir a educação da irmã Ana, que passou a viver em um colégio. Lúcia, então, falece e pede a Paulo que cuide de sua irmã Ana como se fosse sua própria filha, para que nada falte à menina.

O final do romance é considerado "ideal", pois não rompe as barreiras sociais que recaíram sobre o casal. A união dos dois personagens não é apropriada, e não era vista com bons olhos pela sociedade conservadora da época. Por isso, Alencar precisou dar um fim trágico a sua personagem, porém, redimindo-a de sua vida de pecadora com a morte e com o amor verdadeiro.

É dito que o título do romance é uma alusão a Lúcifer, o diabo, dando a entender o caráter dúbio e incompreensível do amor e da sexualidade feminina.

Como referenciar: "Obras de José de Alencar" em Só Literatura. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2024. Consultado em 19/04/2024 às 18:00. Disponível na Internet em http://www.soliteratura.com.br/romantismo/romantismo13.php