Autores do Simbolismo
Alphonsus de Guimaraens
Nasceu na cidade de Ouro Preto (MG) no dia 24 de julho de 1870, filho de comerciante português e de uma sobrinha do escritor romântico Bernardo Guimaraens.
Estudou na cidade natal e depois cursou Direito em São Paulo. Alimentou uma paixão platônica pela filha do autor de A Escrava Isaura, Constança, que morreria de tuberculose antes de completar dezoito anos e, para quem escreveu muitos de seus versos. Ao retornar para Minas Gerais, desempenhou a função de juiz em Conceição do Serro e, posteriormente, em Mariana.
Alphonsus de Guimaraens
Casou-se com Zenaide, uma jovem de dezessete anos com quem teve quatorze filhos. Exceto pelo abalo sentimental que sofreu com a morte de sua amada, teve uma vida tranquila, que reflete em sua obra. Seus poemas são suaves, apesar de expressarem melancolia. Suas obras caracterizam-se pela musicalidade e vocabulário expressivo. Denotam uma busca constante pela espiritualização e giram em torno dos seguintes temas:
- A morte da mulher amada
- A religiosidade litúrgica, com poemas dedicados à Virgem Maria
A Morte da Mulher Amada
A morte da mulher amada representa um tema dominante em sua obra. Seus poemas demonstram a impossibilidade de esquecê-la e apresentam ideias fúnebres, destacando-se a melancolia e a musicalidade. Podemos observar essa forte carga de emoção no soneto Hão de chorar por ela os cinamomos:
Hão de chorar por ela os cinamomos
Murchando as flores ao tombar do dia
Dos laranjais hão de cair os pomos
Lembrando-se daquela que os colhia.
As estrelas dirão: - "Ai, nada somos,
Pois ela se morreu silente e fria..."
E pondo os olhos nela como pomos,
Hão de chorar a irmã que lhes sorria.
A lua que lhe foi mãe carinhosa
Que a viu nascer e amar, há de envolvê-la
Entre lírios e pétalas de rosa.
Os meus sonhos de amor serão defuntos...
E os arcanjos dirão no azul ao vê-la,
Pensando em mim: - "Por que não vieram juntos?"
Silente: silencioso, secreto
Também podemos observar o sofrimento do poeta na obra Ismália, onde a solidão, a loucura e a morte se fundem.
Quando Ismália enlouqueceu,
Pôs-se na torre a sonhar...
Viu uma lua no céu,
Viu outra lua no mar.
No sonho em que se perdeu
Banhou-se toda em luar...
Queria subir ao céu,
Queria descer ao mar...
E, no desvario seu
Na torre pôs-se a cantar...
Estava perto do céu,
Estava longe do mar...
E como um anjo pendeu
As asas para voar...
Queria a lua do céu,
Queria a lua do mar...
As asas que Deus lhe deu
Ruflaram de par em par...
Sua alma subiu ao céu,
Seu corpo desceu ao mar.
A Religiosidade Litúrgica
A morte precoce de sua amada associada ao clima místico das cidades barrocas mineiras serviram de inspiração para Alphonsus de Guimaraens. Ao contrário de Cruz e Sousa, que apresenta uma espiritualização filosófica e repleta de angústias, a de Alphonsus traz elementos mais voltados ao emotivo, baseando-se em preces e crenças simples. Demonstra que a divinização de Nossa Senhora corresponde à sublimação do amor pela mulher amada morta, sugerindo a troca de uma paixão concreta por uma devoção católica.
Tal tendência pode ser observada em seu poema A catedral:
Entre brumas ao longe surge a aurora.
O hialino orvalho aos poucos se evapora,
Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu risonho
Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus! (...)
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a lua a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece na paz do céu tristonho
Toda branca de luar.
E o sino dobra em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho
Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino geme em lúgubres responsos:
Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!
Hialino: transparente
Arrebol: vermelhidão do nascer ou do pôr do sol.
Ebúrnea: de marfim
Responsos: versículos rezados ou cantados
Principais Obras de Alphonsus de Guimaraens
Manuscrito de um soneto de Alphonsus de Guimaraens
- Setenário das Dores de Nossa Senhora (1899)
- Dona Mística (1889)
- Câmara Ardente (1899)
- Kyriale (1902)
Afonso Henrique da Costa Guimarães (seu nome civil) morreu na cidade de Mariana (MG) no dia 15 de julho de 1921, praticamente na obscuridade, às vésperas da Semana de Arte Moderna.