Você está em Material de apoio > Modernismo

Autores modernistas da segunda fase (continuação)

Cecília Meireles

Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu no Rio de Janeiro (RJ), no ano de 1901. Foi poeta, cronista, educadora, ensaísta, tradutora e dramaturga. Seus três irmãos mais velhos morreram antes dela nascer; seu pai, três meses antes de seu nascimento; e a mãe, antes dela completar 3 anos.

Foi criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides, natural dos Açores, Portugal. Cecília Meireles conclui o curso primário em 1910.

Formou-se professora em 1917. O magistério foi uma de suas paixões, levando-a a escrever para o público infantil, em livros didáticos, como Criança, Meu Amor, de 1924, ou em poemas, como Ou Isto ou Aquilo, de 1964.


Cecília Meireles, Rio de Janeiro (RJ), 1901 - 1964


Publicação da obra Criança, Meu Amor

No ano de 1922, casou-se com o artista plástico português Correia Dias (1893-1935), com quem teve três filhas. No período de 1930 a 1933, manteve no Diário de Notícias uma página diária sobre problemas de educação, que resultou um livro póstumo de cinco volumes, Crônicas da Educação. Em 1934, organizou a primeira biblioteca infantil do Brasil, no Rio de Janeiro.

Em 1932, com os educadores Fernando de Azevedo (1894-1974), Anísio Teixeira (1900-1971), Afrânio Peixoto (1876-1947), entre outros, assinou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, considerado marco da renovação educacional do país.


Publicação onde constou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova

Aposentou-se como diretora de escola no ano de 1951, porém se manteve como produtora e redatora de programas culturais da Rádio MEC, que foram reunidos postumamente no livro Ilusões da Vida, de 1976. Ainda que tenha estreado aos 18 anos, com o livro de sonetos Espectros, em 1919, somente com Viagem, de 1939, vencedor do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cecília encontrou seu estilo definitivo.


Publicação da obra Viagem

Principais obras

Poesia: Espectros (1919); Nunca Mais e Poemas dos Poemas (1923); Baladas para El-Rey (1925); Viagem (1939); Vaga Música (1942); Mar Absoluto (1945); Retrato Natural (1949); Amor em Leonoreta (1952); Doze Noturnos da Holanda (1952); Aeronauta (1952); Romanceiro da Inconfidência (1953); Pequeno Oratório de Santa Clara (1955); Pistóia (1955); Canções (1956); Romance de Santa Cecília (1957); Metal Rosicler (1960); Poemas Escritos na Índia (1961); Antologia Poética (1963); Solombra (1963); Ou Isto ou Aquilo (1965); Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian (1965).


Publicação da obra Solombra

Prosa poética: Giroflê, Giroflá (1956).


Publicação da obra Giroflê, Giroflá

Prosa: Notícia da Poesia Brasileira (1935); O Espírito Vitorioso (1959); Rui (1949); Problemas de Literatura Infantil (1951); Panorama Folclórico dos Açores especialmente da Ilha de S. Miguel (1958); Escolha o seu Sonho (1966); A Bíblia na Poesia Brasileira (s/d).


Publicação da obra Problemas de Literatura Infantil

Vale a pena saber mais:

Mesmo considerada uma poeta ligada ao modernismo, seus caminhos estéticos estão mais ligados à evolução pessoal que a movimentos literários. Sua obra aborda a introspecção, religiosidade e desespero pelo sentimento de transitoriedade da vida. Na poesia inicial Espectros e Baladas para El-Rey, há traços dos poetas simbolistas, fase esta que foi renunciada pela autora, ao não as incluir em sua Obra Poética.


Espectros, primeiro livro de poesias de Cecília Meireles

Em Viagem, pela habilidade lírica inovadora, Cecília Meireles retrata uma permanente viagem interior; intimista e introspectiva, sugerindo num tom leve e delicado, temas de solidão, melancolia, fuga pelo sonho, o vazio do existir, saudades e sofrimento. Essas características farão parte de toda sua obra lírica. Algumas estão presentes em Canção quase Melancólica, Fio, Cantiguinha e Assovio.

Outro aspecto presente em sua poesia é a linguagem sensorial, intuitiva e feminina, utilizada em versos plenos num jogo hábil de sons e musicalidade. Recordação muda a realidade através dos elementos sensoriais. Um dos traços mais marcantes de sua poesia é a consciência da transitoriedade das coisas, manifestada na delicadeza com que aborda a rapidez do tempo, dos objetos e da vida, sempre espreitada pela sombra da morte.

Observe o poema:

Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Sua obra considerada mais importante é o poema épico-lírico Romanceiro da Inconfidência, de 1953, uma composição escrita de episódios narrativos rimados. Nesta obra, Cecília Meireles revela sua preocupação social. A partir de fatos históricos, lendas e tradições, narra a época dourada de Minas Gerais e a fatalidade que recaiu sobre os poetas conjurados e familiares. Em um conjunto de 85 romances, é um dos mais admiráveis poemas longos da língua portuguesa.


Publicação da obra Romanceiro da Inconfidência

Observe:

Romance XXVIII ou da Denúncia de Joaquim Silvério
No Palácio da Cachoeira,
com pena bem aparada,
começa Joaquim Silvério
a redigir sua carta.
De boca já disse tudo
quanto soube e imaginava.

Ai, que o traiçoeiro invejoso
junta às ambições a astúcia.
Vede a pena como enrola
arabescos de volúpia,
entre as palavras sinistras
desta carta de denúncia!

Que letras extravagantes,
com falsos intuitos de arte!
Tortos ganchos de malícia,
grandes borrões de vaidade.
Quando a aranha estende a teia,
não se encontra asa que escape.

Vede como está contente,
pelos horrores escritos,
esse impostor caloteiro

que em tremendos labirintos
prende os homens indefesos
e beija os pés aos ministros!

As terras de que era dono,
valiam mais que um ducado.
Com presentes e lisonjas,
arrematava contratos.
E delatar um levante
pode dar lucro bem alto!

Como pavões presunçosos,
suas letras se perfilam.
Cada recurvo penacho
é um erro de ortografia.
Pena que assim se retorce
deixa a verdade torcida.
(No grande espelho do tempo,
cada vida se retrata:
os heróis, em seus degredos
ou mortos em plena praça;
– os delatores, cobrando
o preço das suas cartas...)

  
Como referenciar: "Cecília Meireles" em Só Literatura. Virtuous Tecnologia da Informação, 2007-2024. Consultado em 26/04/2024 às 01:42. Disponível na Internet em http://www.soliteratura.com.br/modernismo/modernismo9.php