Autores do Pré-Modernismo
Lima Barreto
Afonso Henrique de Lima Barreto foi um escritor e jornalista brasileiro. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1881.
Foi filho de pais pobres, pai operário e mãe professora primária, ambos mestiços, sofrendo preconceito em toda sua vida. Ainda criança ficou órfão de mãe. Estudou na Escola Politécnica, no curso de Engenharia. Seu pai enlouqueceu e foi internado, obrigando Lima Barreto a abandonar o curso de Engenharia para sustentar a família.
Empregou-se na Secretaria de Guerra e, ao mesmo tempo, escrevia para quase todos os jornais do Rio de Janeiro. Ao produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e do gosto vigente, recebia severas críticas dos letrados tradicionais. Explorava em suas obras as injustiças sociais e as dificuldades das primeiras décadas da República.
Lima Barreto, Rio de Janeiro, 1881 - 1922
Como fuga das complicações pessoais e sociais, Lima Barreto entregou-se ao álcool. Em razão dos contínuos ataques de depressão, várias vezes foi internado no hospital de alienados mentais.
Morreu vítima de um ataque cardíaco, na mais profunda miséria, aos quarenta e um anos de idade. Ainda em vida, caiu no esquecimento. Somente na década de 1970 sua obra voltou a circular no Brasil.
Publicação em jornal sobre a trajetória e obra de Lima Barreto
Trajetória
Lima Barreto enfrentou muitas dificuldades ao produzir uma literatura inteiramente desvinculada dos padrões e gosto vigentes no início do século XX, período este dominado pelos letrados tradicionais.
O escritor retratava em seus textos a tristeza dos subúrbios e de seu povo humilde. Sua obra está impregnada com a preocupação com os fatos históricos e costumes sociais, demonstrando grande carinho pelos menos favorecidos e humilhados, fugindo porém do sentimentalismo populista, onde se torna uma espécie de cronista apaixonado da antiga capital federal.
Lima Barreto é considerado o escritor da Primeira República por ter representado, sobretudo, as classes marginalizadas da sociedade carioca no começo deste século.
Denúncia social
Seus textos tem caráter de denúncia social e são carregados de originalidade, pois ele vê o mundo com o olhar dos derrotados, o olhar daqueles que sofrem com as injustiças, aqueles que são feridos pelos preconceitos. O motivo central de sua revolta é o preconceito de cor. Por ser mulato, sentiu muitas vezes a rejeição, declarada ou sutil, da discriminação da sociedade brasileira e, por esta razão, protesta intensamente.
Simplicidade do estilo
A oposição de Lima Barreto contra a estética dominante aparece também no seu estilo. Lima Barreto escreve com simplicidade, por vezes com algum desleixo proposital, desejando aproximar o texto escrito da linguagem coloquial. Por esta razão, foi acusado de escrever de forma incorreta e de não ser capaz de lidar com os padrões linguísticos da elite culta, sendo sua obra avaliada gramaticalmente e reprovada por suposta vulgaridade. No entanto, décadas depois, é possível constatar que Lima Barreto não é apenas o romancista mais respeitável do período, como também aquele que mais se aproxima da expressão prosaica, conquistada pela geração de 1922.
Principais obras
- Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909);
- Triste fim de Policarpo Quaresma (1911);
- Numa e Ninfa (1915);
- Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá (1919);
- Os Bruzundangas (1923);
- Clara dos Anjos (1924);
- Cemitério dos vivos (1957, edição póstuma).
Uma de suas obras mais importantes, Triste fim de Policarpo Quaresma, publicada inicialmente em folhetins em 1911, apenas em 1915 surge em livro.
Nesta obra, Lima Barreto descreve a história do Major Quaresma, sonhador personagem defensor do Marechal de Ferro – Floriano Peixoto – um nacionalista ingênuo, que se dedica ao estudo da cultura brasileira e deseja que o Brasil seja totalmente independente, a começar pela língua. Observe o trecho abaixo:
“Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo também de que por esse fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se vêem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras ásperas dos proprietários da língua; sabendo além, que dentro do nosso país os autores e os escritores, com especialidade os gramáticos, não se entendem no tocante à correção gramatical, vendo-se diariamente surgir azedas polêmicas entre os mais profundos estudiosos do nosso idioma – usando do direito que lhe confere a Constituição, vem pedir que o Congresso Nacional decrete o tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro.” (...)
O romance se divide em três partes:
1) o major estuda a cultura brasileira e suas tradições;
2) Policarpo Quaresma enlouquece e vai para o sítio do “Sossego”;
3) a condenação de Quaresma à morte, ironicamente, por crime de traição à Pátria, devido às críticas que faz a seu antigo mito, Floriano Peixoto. Pela ação do marechal durante a Revolta da Armada, de 1893, Policarpo compreende que Floriano Peixoto é um tirano.
Capa do livro Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto